quarta-feira, 4 de agosto de 2010

A coca-cola nossa de cada dia

Sou de uma época que as propagandas de refrigerante eram boas e que ver os caminhões da coca iluminados no natal era algo mágico. A coca-cola, um ícone da juventude de décadas atrás, está banalizada. Hoje em dia, se bebe muito refrigerante. Mesmo com a discrepância de preços (afinal, uma lata de refri no shopping vale o mesmo que uma garrafa de 2 litros no supermercado), se bebe em demasia. Deve existir uma geração (seja ela a x, y ou z) que a única água que ingere é a do gelo derretido do copo de refrigerante.
Na minha infância as garrafas eram de vidro, todas de 1 litro. E este um litro, num almoço em família, sobrava, pois se bebia com parcimônia. Tanto é verdade que alguns mitos existiam. O mais fantástico deles (e sem nenhum embasamento científico) tratava-se de guardar a garrafa com uma colher enfiada no seu gargalo, sob a prerrogativa que desta forma o refri não perdia o gás! Buscar uma garrafa de refrigerante no armazém da esquina era um acontecimento que superava em muito o ato de ir no boteco para comprar um pão de quarto (ou um pão de meio), de tal forma que ele era carregado com todo cuidado, afinal a garrafa era de vidro. Por falar em pão, lembro-me de sempre querer o canto dele, pois se passava chimia (chimia sim, porque chamar chimia de geléia é coisa de burguês) de morango no meio e ela ficava como recheio...humm, adorava.. Mas isso também se perdeu, pois o cacetinho de hoje nada mais é do que o bico do pão de quarto! Hoje em dia, ninguém mais como pão francês em fatia...
Lembro-me também que quando ia-se ao supermercado o primeiro procedimento era entregar as garrafas vazias (chamadas carinhosamente de cascos) no setor de vasilhame. O funcionário lhe entregava um cupom com o número de garrafas recebidas. Ao passar no caixa, este número era conferido, uma vez que o refrigerante sem casco, custava mais caro.
O refrigerante era tão precioso que em festas infantis existia um item exclusivo para decorar a garrafa. Ela ficava lá, em cima da mesa com o seu apetrecho enfiado (e muitas vezes ela permanecia a festa toda na mesa, nem era degustada, servia tão somente como enfeite, principalmente se fosse garrafinha de 290 ml).
O advento da tampa em rosca foi um acontecimento marcante lá em casa. Nenhum aviso alertava da mudança do lacre e a primeira garrafa que chegou com aquela tampa esdrúxula foi motivo de reunião familiar. O abridor de garrafas não funcionara. Tentou-se um saca-rolhas, mas não se teve sucesso. A tampa foi depenada com o uso de uma faca. Apesar de todos os questionamentos, o refri foi degustado em uma temperatura deliciosa. Bastou chegar a noite e uma propaganda no intervalo do jornal nacional mostrava a novidade! O silêncio da família na frente da TV atestava os momentos de ignorância da hora do almoço....
Hoje em dia as propagandas estão sem graça, existem garrafas dos mais diversos volumes. Você não precisa entregar os cascos (muito menos guardar com todo cuidado a notinha do setor de vasilhame). Basta rosquear a tampa para abrir a garrafa, e as colheres perderam a função de conter o gás do refri. Se tem alguma coisa que ficou daquela época é o infindável questionamento do garçom no restaurante: "-Não temos coca, pode ser pepsi?"
Qualquer pessoa em sã consciência sabe que elas não são sinônimos, pois coca-cola é tudo aquilo que a pepsi gostaria de ser......
...apesar das propagandas da pepsi serem geralmente melhores que as das coca


Um comentário:

  1. Coomo tu tem um blog e não me avisaa? ;)
    Adorei, primo!
    Uma hora quero ver tuas fotos!

    Bjks

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