quarta-feira, 9 de junho de 2010

Sobre o cotidiano hermético

Sempre me interessei pelo cotidiano, na verdade, penso que o dia-a-dia tem seu encanto e vejo muita magia e charme nas ruas por onde passo, nas placas que eu leio, nos prédios antigos, nos aposentados jogando damas na praça. Acho que elas revelam muito da cultura de um certo lugar... Muitas pessoas reclamam da rotina, mas o fato é que as coisas na vida são feitas de rotinas, apenas com periodicidades diferentes... Existem as rotinas diárias, como almoço, trabalho; as rotinas semanais, como o jantar de sábado à noite ou o futebolzinho com os amigos; as rotinas mensais como o dia de pagar a prestação do Magazine Luiza. As rotinas anuais como comer lentilha no ano novo (sim, acreditem, tem gente que come lentilha só no dia 31 de dezembro!). Existem algumas rotinas que tem uma periodicidade tão pequena, mas tão pequena, que por demorarem tanto a se repetirem, achamos que se trata de um momento único, seja ele uma final incrível de campeonato, um gol de placa, um cometa que passa, a guria que vinha cheia de sacolas e tu seguraste a porta do elevador, um beijo que deixa as pernas bambas...


Apesar de registrarmos em nossa memória as grandes epopeias que vivemos, são os momentos do cotidiano que sentimos falta.. A falta de poder ser um adolescente com poucas preocupações (talvez a maior delas seja, para um CDF, ter duas provas num mesmo dia, para as gurias, sair uma espinha no nariz no dia da tão esperada festa...). Quando estamos longe de casa sentimos saudade da comidinha da mamãe, quando voltamos de uma viagem e começamos a relembrá-la, não é a Torre Eiffel ou o Coliseu que dá saudade, e sim aquelas ruelas perdidas por onde andamos, o frio característico daquela pequena cidade, uma cerveja degustada na temperatura certa, os metrôs, o cheiro dos nativos, seus costumes, enfim, as peculiaridades do cotidiano de cada cidade...


Nunca pensei em escrever alguma coisa, muito menos em divulgar em algum lugar (tá certo que tirando os membros da família e alguns amigos, este blog ficará no anonimato). O fato é que pela minha formação acadêmica, escrever nunca foi algo muito apreciado. Admito que comecei a tomar gosto pela coisa quando tive que pensar em alguns discursos de formatura...comecei a achar esta tarefa nada árdua, pelo contrário, me dava prazer...Hoje, as pessoas se preocupam muito em fazer alguma coisa que alavanque sua carreira profissional, dê bons dividendos, enfim que leve ao sucesso, mesmo não tendo bem certeza de onde ele está...Esta não é minha ambição, estou escrevendo por prazer, até porque tenho convicção que não escrevo tão mal a ponto de ser entrevistado pelo Jô Soares, nem tão bem para merecer uma coluna na Folha de São Paulo..Faço por diversão, sem me estressar, sem me preocupar com os erros de português, afinal, se for começar a esquentar a cabeça com as postagens, elas deixarão de serem divertidas e prazerosas para mim e acabarão perdendo o sentido....


Sempre gostei de fotografia, vou me arriscar a divulgar algumas registradas por mim, mas já aviso que as fotos não são boas, pois o meu gosto por esta arte supera muito a minha competência fotografística...De qualquer forma elas estão aí, para tentar mostrar, associadas aos textos, que uma paçoca de amendoim, uma placa de trânsito, uma guria atravessando a rua tem o seu charme. Que ficar com os dedos murchos após um longo banho de piscina é uma experiência singular...Ademais, gosto muito de viajar e também pretendo retratar o cotidiano das cidades por onde passei, mostrar ruas e não monumentos, pessoas e não museus. Gosto de clicar as especificidades de cada lugar, enfim detalhes que passam desapercebidos por aqueles turistas clássicos que quando chegam num ponto turístico já estão preocupados com o próximo a visitar, sem nem "digerirem" o que está na frente de seus olhos...muitas vezes se tem muito mais beleza no "ir e vir" do que no propriamente "chegar".
Em suma é isso, o cotidiano hermético explora a efervescência do diário, ele tem um olhar descompromissado, mostra o "lado B" do que vemos por aí, das coisas do nosso cotidiano ou do cotidiano de outras cidades, as generalizações e as peculiaridade, os antagônicos e os complementares do dia-a-dia. Enfim, trata-se de ver com carinho o nosso mundo diário, que, por estar sempre aí, bem pertinho, dia após dia, deixa de nos surpreender com sua beleza ímpar, funcional e simples...

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